Ensinar a ler pelo método fonético (sintético)

Assume-se que os problemas existentes no sistema educativo português podem ser resolvidos amanhã, desde que sejam hoje tomadas as medidas “correctas”. Mas, na realidade, são a consequência das decisões tomadas no decurso das experiências educativas irresponsáveis dos últimos 30 anos, as quais criaram problemas de fundo, resolúveis só a médio ou longo prazo. Aqui, falaremos de um dos problemas mais urgentes: como se ensina a ler na escola primária.

Avaliação do ensino Básico e Secundário

Avaliemos o ensino em termos de competências-chave adquiridas. Realcemos apenas a mais importante destas competências – saber ler, perceber e interpretar um texto escrito. Nos Exames Nacionais de Português do 12º ano, de um total de 20 valores, são dados 8 pela interpretação de um texto escrito. Como sabemos, as notas médias rondam 7 valores. Assim, um aluno médio adquiriu esta competência-chave apenas a 30%, pois um aluno excelente nesta competência não conseguirá falhar redondamente em tudo o resto. Assim, o aluno médio não atinge, no fim do 12º ano, tão-pouco o nível exigível aos alunos da escola primária. Entre os alunos que entram no ensino superior, muitos falham também nessa mesma competência-chave, saber ler, perceber e interpretar um texto escrito, o que não surpreende, pois têm uma média escolar abaixo de 10 valores. Assim, a avaliação que poderemos atribuir ao ensino de Leitura e Português, é "Não Satisfaz".

Ensino da leitura

Acontece que vigora o método visual (método global) de ensino de leitura: os alunos são ensinados a reconhecer palavras inteiras pela sua aparência visual. Este método foi promovido por um educador americano, e é radicalmente diferente do método fonético: aprender as letras – construir as sílabas – palavras – frases. Este educador conseguiu combinar bem os dois métodos, pois os seus alunos aprendiam a ler melhor. Entretanto, a aplicação das suas ideias no nosso sistema escolar leva ao absoluto a componente visual. A consequência disso é que a grande maioria dos professores ensina a ler pelo método visual com resultados desastrosos: os seus alunos não aprendem a ler em tempo útil, continuando sem saber ler mesmo no 4º ano da primária. Infelizmente, são incontáveis os exemplos.

Método visual (global)

As nações sem outro remédio para o ensino da leitura que não o método visual são as orientais, que utilizam na escrita os ideogramas. Os ideogramas são desenhos simplificados, cada um dos quais representa uma palavra, sendo todos os ideogramas diferentes uns dos outros, embora muitos conceitos são construídos por mais que um ideograma. Um japonês bem-formado sabe cerca de mil ideogramas. Isso dá cerca de cem ideogramas por ano de ensino, ou então cerca de dois por semana, o que até não parece muito. Entretanto, um aluno japonês, para atingir o sucesso escolar, estuda muitas mais horas por dia que um aluno ocidental.

Assim, o aluno português tem que reconhecer as palavras pela sua aparência visual, sem saber as letras nem as sílabas. Vendo páginas cheias de texto, rapidamente perde a confiança nas suas capacidades, pois todos os dias exigem-lhe que aprenda mais palavras, a uma velocidade que em muito excede os dois ideogramas por semana de um japonês. Entretanto, enquanto aquele sabe que deve estudar arduamente, este não tem a mínima noção, pois nunca lhe exigem trabalho sério na escola. Perdidas as esperanças, o aluno desiste e não aprende a ler em tempo útil, com consequências desastrosas – para o seu percurso escolar, e graves – para o resto da sua vida.

As dificuldades do método visual percebem-se melhor em termos do funcionamento do nosso cérebro, pois a maioria das pessoas consegue raciocinar apoiando-se em noções expressas por palavras, construídas por fonemas ou sons. Assim, o método fonético aplica-se ao ensino de Leitura com toda a naturalidade. Por outro lado, apenas os pintores geniais conseguem raciocinar apoiando-se em imagens. Todos conhecemos as dificuldades em aprender sinais de trânsito, embora estes sejam muito menos numerosos que os ideogramas, e foram concebidos para serem facilmente interpretáveis. As pessoas que conseguem ler muito rapidamente apoiam esta sua capacidade no método visual, mas são poucas. Portanto, não se deve complicar a vida da grande maioria dos alunos, impingindo-lhes o método visual na escola primária.

Diagnóstico

Os nossos alunos da primária não conseguem aprender a ler em tempo útil, porque são maioritariamente ensinados a ler pelo método visual, que já vimos que não funciona, sendo os resultados bem visíveis no sistema educativo nacional. Saliente-se que na escola primária não há alunos maus nem professores incompetentes, existem sim métodos de ensino inadequados.

Metas

Os alunos devem aprender a ler até ao fim do 2º ano, ou seja, aos 7-8 anos de idade, correntemente, a cerca de 100 palavras por minuto. Exigir o mesmo ao fim do 1º ano seria demais, porque o aluno ficaria sobrecarregado com todas as coisas novas com que tem de contactar e aprender. O primeiro ano deverá ser dedicado à integração na turma e à aprendizagem de comportamentos disciplinados na aula, de regras de segurança, visitas de estudo aos empregos dos pais, a locais históricos, e quanto mais cedo melhor. Pode-se ir aprendendo o alfabeto e os algarismos, construindo sílabas e aprendendo somas até 20 – mas não se deve tentar que logo no primeiro ano aprendam tudo, pois o aluno, sobrecarregado, ficará desapontado logo no primeiro ano da escolaridade.

Medidas

O método visual deverá ser substituído pelo método fonético, os livros de leitura da Escola Primária deverão ser reeditados para serem usados com o método fonético, já para o próximo ano lectivo, pois cada ano perdido representa mais uma geração de alunos, vitimas do sistema de ensino. O início do ensino do Inglês na escola primária deverá ser adiado para o terceiro ano, para dar tempo ao aluno para aprender a ler com desenvoltura. Senão, o aluno ficará sobrecarregado no segundo ano, e não conseguirá sequer aprender a ler.

Notas em prova
  • Consta que o Ministério de Educação da França proibiu o método global (visual) no ano de 2006.
  • Apareceu no fim de Novembro de 2007 uma notícia na BBC detalhando os planos de fazer com que as crianças Inglesas todas aprendem a ler, ainda com idade de 6 anos, com base em método sintético (fonético).


36 comentários:

A Professorinha disse...

Já ouviu falar do Método Global? É um método que defende ensinar ao aluno toda a palavra e não apenas partes (sílabas, letras..)... A minha mãe, professora primária, usou esse método com bastante sucesso. Com este método evita-se que a criança soletre.

Mas para saber mais:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o#M.C3.A9todo_global_.28ou_anal.C3.ADtico.29

Gostei desta argumentação no seu blog. Ainda não tive tempo para ler tudo, mas lerei. Também já o "linkei", muito obrigada por me ter incluído entre os seus links.

Cumprimentos...

José Carrancudo disse...

Pois, o método global, ou então o método visual, são dois nomes de um mesmo flagelo.
O principal problema da sua aplicação é que necessita de excelentes professores que saibam quando é necessário começar a soletrar! E estes estatisticamente constituem apenas 10% do número total. Os restantes fazem o que fazem, com os resultados que todos conhecemos: os alunos não aprendem a ler, nem no 4º ano da primária.

A Professorinha disse...

Pois então a minha mãe era uma excelente professora (como eu já desconfiava). Mas realmente tem razão ao dizer que este método não é um método fácil de usar especialmente porque os professores não são "ensinados" a fazê-lo. Acho que outra das falhas deste flagelo é a formação de professores. Há falhas enormes que não são colmatadas e os professores vêem-se sem saída quando se apercebem do falhanço dos seus métodos...

DL disse...

O método global não funciona bem com muitas crianças. Depois de fazerem progressos rápidos no início, mostram dificuldades na leitura quando progridem no grau de ensino, por exemplo lendo apenas a parte inicial da palavra e adivinhando-lhe o fim.

Anónimo disse...

Segundo sei o método global é apontado pelos pediatras como uma das causas, senão a maior, da dislexia, a qual se tornou numa autêntica praga nacional.

O experimentalismo pedagógico auto avaliado, levou-nos ao estado em que estamos.

O facilitismo promovido pelas ESEs
é um dos maiores crimes cometidos nos ultimos 25 anos neste país, e terá (já tem) consequências desastrosas no desenvolvimento do mesmo.

Apenas uma dúvida me assalta o espirito. Será que foi tudo obra de utopias irresponsáveis, ou, tudo não passou de um plano bem urdido para condenar o país à miséria e pobreza para todo o sempre?

José Carrancudo disse...

Obrigado, desta não sabia.

Quanto a dúvida, com amigos assim, quem precisa de inimigos?

Fernando Gouveia disse...

Caro José Carrancudo,

Concordo genericamente consigo, mas tenho de lhe apontar uma inexactidão grave: o chinês e o japonês não recorrem a "hieróglifos", mas a ideogramas; no caso do japonês, a escrita combina até 3 sistemas: ideogramas chineses, mais dois silabários (cada símbolo representa uma sílaba inteira e não um fonema).
Já agora, a maioria das demais línguas «orientais» recorrem a abecedários ou silabários (autóctones ou importados).

Eu tenho 35 anos e escapei a esse método visual/global de aprendizagem da leitura, mas a minha irmã (2 anos mais velha) participou numa experiência-piloto desse método. (Ainda hoje, mais de 30 anos passados, a gozamos pelo pânico dela, um dia em que descobriu que «Perdi a minha 'cabeça'!»: ela tinha um porta-lápis cheio de palavras escritas em pequenos pedaços de cartolina.)
No caso da minha irmã os resultados não foram maus, bem pelo contrário, mas ela sempre foi muito trabalhadora e organizada. Fica a questão de sabermos se o mérito foi do método ou dela...

O método visual é intrinsecamente errado numa língua cuja escrita é fonética, como a portuguesa (e a maioria das línguas actuais).
A ideia subjacente ao abecedário é a representação de fonemas, de sons; a ideia total da palavra só surge depois da agregação de todos os sons, obtendo-se a palavra completa.
A questão de evitar que os alunos soletrem é uma falsa questão: isso é conseguido com a prática, muita prática.

Já agora, aprenda-se por um método ou outro, há sempre uma dose de "adivinhação" (por antecipação) no acto de leitura. Estudos de neuropsicologia (acho que é assim o nome da disciplina) mostram que, na maioria dos casos, muito rapidamente formamos uma ideia da palavra que temos à nossa frente (pelo contexto ou pela familiaridade, por ex.); a questão é não deixarmos que o "palpite" se sobreponha à realidade das letras em presença... Ora, o que me parece é que quem adopta o método visual a 100%, pondo de parte o método fonético, induz esse erro nos alunos: estes aprendem, sistematicamente, a «deitar a adivinhar» (o que funciona muito mal sempre que as palavras saem do reduzido âmbito do expectável).
Um exemplo ilustrativo é ler em voz alta os «Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena» de Jorge de Sena: mesmo quem tenha grande prática de leitura tropeçará aqui e ali, pois falta a muleta do sentido (falarei disto mais à frente).

Atenção: não digo que o método visual não possa ser usado (ele, de resto, é inevitável, mesmo que não seja explicitamente ensinado: há uma tendência natural para tentarmos descobrir algo de familiar naquilo que vemos). O que está completamente errado é usar um método em substituição de outro. Se o nosso cérebro tem diversas estratégias de aprendizagem, pôr algumas de parte é estupidez!
Era como se um agricultor, tendo estudado e concluído que o sol é benéfico para o crescimento das suas colheitas, decidisse privá-las totalmente de água, terra e ar, esse método antiquado de cultivar...

Uma curiosidade: uma amiga minha (prof. ensino secundário), que detectou nos alunos uma irreprimível tendência para tentarem «adivinhar» as palavras após a primeira ou, no máximo, a segunda sílaba, escudando-se geralmente no contexto (muitos falham, pois não captam o contexto; outros nem a esse nível de sofisticação chegam...), adoptou uma estratégia interessante: para forçá-los a olhar para as palavras, para as sílabas, organiza de vez em quando provas de leitura de textos de trás para a frente (inverte-se a ordem das palavras, não das letras ou das sílabas). Sem a muleta do sentido, a leitura é a princípio muito mais lenta e cheia de erros, mas com alguma prática a coisa melhora; quando retomam a leitura normal, a velocidade e correcção são muito maiores.

José Carrancudo disse...

Corrigi a terminologia.

Tagarela disse...

Nada como ouvir ou ler os outros para aprender mais um pouco!

Como professora de Português (3.º ciclo e Secundário), reflicto bastante sobre estes assuntos. Raramente tenho oportunidade de conversar com colegas que leccionam o 1.º ciclo, razão pela qual achei esclarecedor ler todos estes comentários.

Não sei muito bem como se deve ensinar a ler uma criança, mas que os nossos alunos escrevem e lêem mal, que não haja nenhuma dúvida! Já se torna habitual ter alunos de 7.º ano a escrever mal, a soletrar as palavras e apontá-las com o dedo, a não saber interpretar sequer uma simples pergunta de uma ficha de trabalho...

Muitos alunos até são esforçados e preocupados, os pais procuram explicadores e centros de estudo, mas sinto-me impotente para cumprir um programa de 7.º ano (já nem falo dos outros), com o mínimo de rigor e exigência, perante miúdos "amputados" de pré-requisitos tão essenciais!

Gostava também de salientar outros aspectos:

a)Um aluno pode aprender a ler e a escrever bem, mas se não praticar essas competências de leitura e escrita, nada feito. LER, por exemplo, é um exercício fundamental. Para tudo! Fluência de leitura, aquisição de vocabulário, interpretação... Quantos alunos meus preferem ver um filme falado em "brasileiro" só porque "as legendas passam muito depressa"... E quanto menos se treina...

b)As aulas de Língua Portuguesa não podem ser o único espaço em que os alunos se vejam estimulados a falar e a escrever bem português. A maioria dos professores das outras disciplinas negligencia a forma como os alunos escrevem nos testes. "Desde que acertem na resposta, o resto é lá com os professores de Português" - dizem muitos deles. É evidente que, assim, não vamos a lado nenhum, pois os alunos consideram que "só na aula de Português é que tem se ter cuidado; nas outras podemos escrever à vontade"...

Para mim, isto é essencial e óbvio. Estamos mergulhados na Língua Portuguesa, desde o nosso mais obscuro pensamento até à súbita e espontânea interjeição quando batemos com o cotovelo numa porta... Por isso, os professores do 1.º ciclo e os professores de Português não podem estar sozinhos nesta batalha de "ensinar a ler e a escrever" - todos temos essa responsabilidade!

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

O método global até pode - com certos professore e com certos alunos - ensinar a ler. O problema é que ensina a ler, enquanto o método analítico é já uma propedêutica para futuras aprendizagens sobre a língua - ou seja, para a gramática abstracta, a qual por sua vez é uma propedêutica para a lógica formal e para o pensamento crítico.
Ao ensinar a criança de seis anos tenho que estar já a pensar no adolescente de dezoito, e do ponto de vista deste o método global parece-me um beco sem saída.

M.J. Cruz disse...

Pois bem, tendo eu 20 anos, devo ter "apanhado" com o método visual..no entanto, acho que não me posso queixar. Sempre li e escrevi excepcionalmente.
Parece que vou ter de felicitar a minha professora da primária..ou será apenas por mérito meu?

Continuando, a minha opinião é que não nos devemos seguir por determinismos em relação a coisa alguma.
Ao invés de só termos um ou outro método de ensino de leitura, porque não ter os dois?

José Carrancudo disse...

Caro Manel João,

Os resultados da aplicação do método global (visual) em Portugal, durante os últimos 30 anos, são inequívocos: a grande maioria dos alunos não aprende ler atempadamente, não leia, não constrói um vocabulário activo suficientemente abrangente, não sabe escrever nem se exprimir oralmente. Precisamos é pensar em todos e não nos mais dotados, que muitas vezes aparecem na escola já sabendo ler, e assim safam-se independentemente dos métodos usados pelos professores menos aptos.

Cumprimentos,
J.C.

Anónimo disse...

Caro José,

Apenas para fortalecer aquilo que defendes, gostaria de comentar que aqui no Brasil o método visual vem sendo aplicado há alguns anos e os resultados são catastróficos. Na educação da rede pública ainda continua, mas nas escolas privadas (infinitamente melhores) o método fonético está a substituir, paulatinamente, o construtivismo e se compararmos o nível dos alunos de ambas as redes, a diferença é "gritante".
Cordialmente,
Janaína

Anónimo disse...

Só tenho certeza de uma coisa... quem fala sobre o método global como um bicho de sete cabeças das duas uma: ou está a brincar ou não tem a mínima ideia do que escreve!
Este foi o meu primeiro ano de trabalho e fiquei com uma turma de 1º ano. Uma vez que aprendi o método global na minha formação inicial, aventurei-me no mundo da descoberta da leitura e escrita com este mesmo método. Antes do Natal, a maioria da turma já lia sem dificuldades (excepto 3 numa turma de 24 alunos). É certo que no início foi muito complicado, principalmente, por causa do receio dos pais (a maioria aprendeu a ler com o método fonético). Contudo, acreditei nas minhas capacidades e acima de tudo, nos meus pequenos alunos e consegui atingir os objectivos pedidos até à Páscoa- todos deveriam ler.
Quando terminei a minha licenciatura, optei por estudar o método da cartilha maternal e, sinceramente, fiquei horrorizada com o que li (com todo o respeito por quem a fez!). Não faz qualquer sentido para uma criança de 6 anos a letra "O". Faz sim muito sentido "Eu fui passear com os meus pais" e a partir desta frase fazer descobertas. Já ouviram falar em "aprendizagens significativas?" com tudo o que li, penso que não... Devemos partir do conhecimento e das experiências dos alunos logo no início do ano. Não é começar com um "U" ou um "I" e depois ter de fazer aquele manuscrito muito bonito e que só serve para perder tempo e gastar folhas. Primeiro, devemos trabalhar a consciência fonológica e brincar muito com as palavras, as sílabas e letras. Só depois desta etapa, tanto o professor como os alunos estão preparados para a aventura da escrita e da leitura.
O método global parte dos interesses e das experiências dos alunos, por isso, é muito mais significativo e estimulante. E nenhum dos meus alunos lê com receio ou soletra, pelo contrário.
E quanto a ser um método antiquado, sinceramente, nunca olharam para os "maravilhosos" (!) manuais que enchem as escolas portuguesas? Esses mesmos que nos dizem ter "textos claros, rigorosos e adequados ao nível etário do aluno"?
Continuam a ensinar "o Vilela leva a vaca à vila" que só infantiliza as crianças para além de não ter um significado concreto.
O método sintético é o mais utilizado nas escolas portuguesas antes, durante e depois de Salazar e, na minha opinião, o analfabetismo, o desinteresse pelos livros e pela leitura e tudo o que advém deve-se única e exclusivamente e este método que aqui tanto o idolatram!
É certo que muitos professores não sabem muito bem como trabalhar com este método, pois ao contrário do método sintético, é muito mais trabalhoso tanto por parte do professor como dos alunos. Devem procurar ajuda, formação... caso contrário, é uma perda de tempo!
Gostei muito de ler os comentários e argumentações e apesar de manifestar-me uma adepta do método global, é certo que aprendi a ler com o método sintético e não tive dificuldades tanto na expressão oral como escrita. Também é verdade que muitas vezes tive receio e medo de falhar (tratando-se do meu primeiro ano) e recorri ao método sintético para trabalhar com os alunos com mais dificuldades... Tal como referiram, não é o método que escolhe o aluno mas sim o contrário.
É num processo de muita reflexão e trabalho que encontrei a resposta: nenhum método é melhor do que o outro, simplesmente, nós, professores devemos abrir novos horizontes, novos caminhos e não ficarmos encostados à espera de um milagre. Tudo o que fazemos é irreversível, principalmente, os professores de 1º ciclo. Deixamos marcas para toda a vida...

José Carrancudo disse...

Ninguém disse que o método global não pode ser usado; mas nunca deve ser usado pelos professores mal preparados - já vi turmas inteiras que não sabiam ler no quarto ano, e não admito a possibilidade de alguém ter conseguido juntar 30 atrasados mentais na mesma turma, assim as conclusões são óbvias.

O que importa mais, é o resultado final: 80% dos alunos não aprendem ler na escola, no máximo conseguem "ler" alguns partes dos seus livros escolares. Porquê? Porque estão ensinados mal, pelo método global, o qual os professores não conseguiram aprender em 30 anos ...

José Carrancudo disse...

Ainda: para distinguir a capacidade de ler, da capacidade de reproduzir as palavras, cujo visual já decorou, devia dar aos seus alunos um texto de um outro autor, por exemplo, de um livro de leitura de uma outra editora, e com palavras cujo visual ainda não decoraram. Depois diga quantas palavras por minuto deu, num fragmento de 100 palavras, e com quantos erros graves (dizer uma palavra que não está lá, ou não saber dizer a palavra). Objectivo: 100 palavras por minuto para o fim do 2º ano.
Boa sorte!

Anónimo disse...

Sou um pouco teimosa mas não significa que não saiba aceitar críticas, pelo contrário... Ainda sou muito nova e, tal como os meus alunos, tenho muito a aprender. Pode ser que daqui a alguns anos já não ensine pelo método global... Por enquanto, é neste método que confio e em que acredito ser o mais adequado e significativo para os meus alunos.

Concordo que muitos professores não sabem ensinar pelo método global (pelas razões expostas no meu comentário anterior). Realmente, é muito mais fácil, eficiente e rápido ensinar a ler pelo método fonético mas também tem muitas desvantagens...
Estagiei em duas turmas de 4º ano onde os alunos aprenderam a ler pelo método fonético e deparei-me com vários casos onde ainda trocavam "z's" por "s's", etc (sistematicamente). Na leitura alguns ainda eram muito hesitantes e soletravam. Mas também tenho alguns alunos que fazem o mesmo...


Onde posso encontrar os dados de que fala "80% dos alunos não aprendem ler na escola, no máximo conseguem "ler" alguns partes dos seus livros escolares(...)Porque estão ensinados mal, pelo método global"?

O meu primeiro ano já está quase a terminar mas desde bem cedo (ainda no 1º período) instituímos a hora do conto. No início, apenas eu fazia a leitura ou contava uma história para dar o exemplo, (entre outros objectivos) mas depressa alguns alunos começaram a fazer inscrições para este momento e fiquei deslumbrada com o que vi: não eram capazes de descodificar os escritos mas já sabiam tão bem as histórias que contavam-nas com muito orgulho e satisfação para a turma.
Com toda esta motivação, consegui captar a atenção dos alunos sempre que era feito um trabalho de texto. Não só preocupei-me com as narrativas como aproveitei quase sempre situações funcionais para trabalhar a leitura e a escrita. Fazemos correspondência com outra turma de 1º ano, escrevemos, colectivamente, recados para os pais, colegas de outra turma, temos o nosso jornal, os registos das actividades experimentais, etc.

Contudo, tenho alguns alunos que na leitura, ou trocam as palavras por outras mais conhecidas ou simplesmente, fazem com que desapareçam... São algumas desvantagens do método global que vou aprendendo e reflectindo.
Estou muito satisfeita com os resultados tal como os pais que foram muito desconfiados no início do ano. Felizmente, tenho um 2º ano que vai permitir uma boa consolidação...Pelo menos, é o que espero.

Obrigado

José Carrancudo disse...

Quanto aos 80%, é muito simples: a taxa do abandono escolar (os que nada aprenderam) é de 40%, restam 60%, destes, a nota média do exame de Português é de 7; ou seja, 2 dos 3 não sabem ler, senão teriam conseguido a tarefa mais importante, que vale 80 pontos dos 200 do dito exame, nomeadamente "de ler, perceber e interpretar um texto", tarefa esta cuja mera presença no Exame indica a existência de um problema gravíssimo na Escola, pois os alunos deviam ter adquirido esta competência na Primária, e não no Liceu.

Ora, ficam então 20% que sabem "ler, etc". Os restantes não aprenderam. Porquê? São idiotas ou foram ensinados mal?? E o método global - é o método oficial, todos os livros de leitura são feitos para o método global.

...

José Carrancudo disse...

Ainda: aqui está uma receita para descobrir se os seus alunos realmente sabem ler.

Anónimo disse...

"E o método global - é o método oficial, todos os livros de leitura são feitos para o método global".
Não compreendo... a maioria dos manuais de língua portuguesa segue sempre esta lógica: vogais, ditongos, consoantes e casos de leitura. Isto não é o método global. Importa-se de explicar melhor?
Quanto à receita, de facto, como não como não conheciam as palavras, tiveram alguma dificuldade. Mal olharam para o texto, fizeram comentários tais como "não conheço estas palavras". Foi um choque geral. Dei-lhes um bom tempo para tentarem ler e com muito receio, lá conseguiram ler algumas palavras (como se lê em português).
Obrigado

José Carrancudo disse...

Os livros de leitura de "antes da revolução" eram iguais aos livros pelos quais aprendi eu, em 1964, no estrangeiro: começavam de dar algumas letras, sílabas, palavras de 2 sílabas, depois mais letras, etc. Os livros modernos de leitura, pelos quais estudaram cá os meus filhos mais novos, começam de páginas inteiras cheias de texto, e só na altura do Natal entram com as primeiras letras. Talvez o livro adoptado na sua escola seja melhor, e mais baseado no método sintético.

Anónimo disse...

Não faz sentido ensinar o mesmo conteúdo para todos os alunos ao mesmo tempo. Por isso, optei por não utilizar manuais (também depende muito de como cada professor dá uso mas a maioria faz assim...).
Já tive vários manuais nas minhas mãos e nunca encontrei um como foi descrito: primeiro com textos e só depois com as primeiras letras. Sinceramente, também não lhe daria muito uso...
Obrigado

José Carrancudo disse...

ao Anónimo:
Comparando os livros que conhece, com um livro de leitura editado antes da Revolução, vai logo reconhecer a diferença.

à Carina:
Ainda não se convenceu que os seus alunos não aprendem ler, pois apenas conseguem reproduzir as palavras que já conhecem?

Anónimo disse...

Bom, o termo diversidade ainda é desconhecido por alguns... As espécies que hoje em dia sobrevivem devem-no a isso mesmo (sentido lato). Não sei porque defende com tanto afinco o “seu” método. Quando hoje em dia nas Universidades se defende o construtivismo e é aí mesmo que o método global vai saciar a sua cede. Já se deu conta porque é que umas coisas decora melhor do que outras… Outros assuntos sobre os quais colegas referiram anteriormente, talvez consigam perceber através do associativismo, automatização e sistematização relacionado como cérebro (longo tema). Isso só prova, como mostrou e escreveu muito bem, o desconhecimento do sistema de ensino instituído no 1º Ciclo. Em primeiro lugar não há directivas emanadas pelo Ministério, Órgão ou Instituição para uso ou aplicação de um determinado método específico (Ups! Peço desculpa mas é um erro seu). Duvido que lhe tenham dado um método para aplicar e este teria 100% de sucesso, seja na área que for.
Os métodos mais aplicados são o Analítico e o Sintético pois, é mais fácil começar na 1.ª página dum livro e levá-lo até ao fim sem se preocupar com fichas e exercícios que vêm em livro anexo. Espero que depois disto tenha vontade de se dirigir a uma livraria e verificar que os livros de hoje pouco diferem dos do seu tempo a não ser nas gravuras que, são mais apelativas.
Sempre me dei muito bem com o método fonético e com elevadas taxas de sucesso mas infelizmente sempre com algumas baixas pelo meio (método maçudo do tempo dos descobrimentos). Este ano estou numa situação profissional diferente e obriguei-me a mim próprio a estudar e a aplicar outro método. Apliquei o método global com um aluno com dificuldades de aprendizagem, o qual, neste momento já consegue ler/interpretar/soletrar/silabar/declinar etc. (aquelas coisitas que quem está por dentro vai sabendo). Fiquei admirado pois, ele tem uma percepção diferente daquilo que lê, comparativamente com os colegas que já sabiam ler e inclusive alunos do 3.º ano. Neste momento é um aluno com uma enorme confiança, auto-estima e olhar positivo em relação à escola. Gosta de dar a sua opinião em todos os campos e áreas. Quando li o teste que anuncia, verifiquei que não necessitava de o aplicar ao meu aluno pois, o método que apliquei obriga o aluno a ler sílabas, as quais formam “palavras” criadas/inventadas por ele, e que com muito orgulho ele olha para mim e diz bem alto “eu sei ler esta palavra, é muito fácil para mim…” apesar de esta não ter significado algum nem a conhecer de nenhum lado. Neste momento seja qual for a palavra que estiver escrita ele lê e atribui um significado, associando sempre às suas experiências de vida.
Tenho um enorme prazer em ver que, há colegas que tentam diversificar e procuram sabedoria, isso sim é de louvar. Como todos sabemos, as verdades não são absolutas. E no que toca a saber, todos nós sabemos muito quando o tamanho da nossa sabedoria percorre a distância do umbigo ao nariz.
Deixo ficar uma ou outra questão: O colega já alguma vez leccionou no 1.º CEB?
Desenvolver competências, diz-lhe algo ou é-lhe completamente estranho o tema?
Será que a culpa é sempre dos colegas dos anos anteriores, dos graus de ensino inferiores? Ou também será nossa, porque não estamos a conseguir lidar com o problema.
Freud tem algumas explicações relativamente a alguns complexos, algumas das suas teorias são interessantes?
Os meus PARABÉNS para quem estuda/aplica não só um mas a partir de dois métodos de leitura. Preocupando-se, não com o que aqui está a ser discutido, mas sim, em ajudar os alunos. Não há um método com 100% de eficácia. Se houvesse esse seria, se calhar, o do famoso Paulo Freire. Tão claro como um raio de sol que atravessa o vidro sem o rachar nem o partir.
Com muito respeito a todos vós me despeço.

José Carrancudo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Carrancudo disse...

A questão não está de eu conhecer melhor ou pior os métodos de ensino de leitura, que podem ser mais ou menos justificados ou mais ou menos diversos, e os livros mais ou menos apelativos.

A questão é muito mais fundamental: os alunos chegam a universidade sem saber ler, escrever e contar, e a culpa disso é dos "diversificadores" do ensino. Já vi turmas inteiras do 4º ano da primária que não sabiam ler. Acha que são estes alunos todos atrasados mentais? Ou são atrasados mentais quem acha possível violar o bom senso e continuar a fazer cá o que já deixaram de fazer os nossos vizinhos, teimando a usar o método que não é capaz de funcionar?

Desde sempre se usavam palavras associadas aos respectivos desenhos, para decorar o alfabeto, mas é por ai que devemos parar com o "método global". Quem sabe as letras, será capaz de construir dai sílabas e palavras, e aprenderá a ler.

Já tentou usar o teste da capacidade de leitura aqui proposto? Sem saber a ler as palavras desconhecidas, a pessoa não sabe ler, pois tem o seu vocabulário extremamente limitado, e não será capaz de o desenvolver. Se os seus alunos são capazes de passar o teste - muito bem, então sabem ler, e o leitor já não precisa de mudar muita coisa na sua maneira de ensinar. Infelizmente, os resultados dos exames nacionais mostram que uma grande maioria dos seus colegas precisam de mudar, e precisam mesmo muito.

José Carrancudo disse...

Continuando com as afirmações do leitor Anónimo.

Já que pugna tanto pela "diversidade" no ensino, sabe explicar a razão por não ter sido editado nenhum livro de leitura adaptado ao método fonético, nos últimos 30 anos? Parece que toda a sua "diversidade" resume-se à liberdade de ensinar de maneira manifestamente incorrecta, e à impossibilidade de ensinar de maneira correcta. Nestas condições, o Ministério não precisa de emitir directivas explícitas - na ausência de livros, na maioria dos casos opta o professor pelo mais fácil, usando o método global e seguindo a estrutura do livro existente. Resultado: apenas 20% dos alunos que entraram na escola primaria conseguem positivas nos exames nacionais de Português (tendo em conta os exames de antes-de-2005).

Quanto ao seu aluno que consegue "ler" as palavras inventadas por ele, este exemplo nada prova - o aluno já sabia "ler" a palavra, mesmo antes de a ter escrito, pois "inventou-a", juntando as sílabas que já conhece de vista. Entretanto, o nosso teste obriga começar desde a raiz, usando as letras para construir as sílabas, etc.

Quando ao desenvolvimento de competências, cabe à Escola Primária desenvolver as competências de leitura e escrita. Entretanto, o próprio facto de dar 40% da nota do Exame Nacional pela "leitura, percepção e interpretação de um texto" mostra que esta competência ainda não existe mesmo em alunos finalistas, pois tem que ser verificada, embora devia ter sido desenvolvida muito antes do 12º ano. E se não foi desenvolvida na primária, é porque a primária não ensina a ler, pois os professores acham que estão a ensinar, sem perceber que estão a tentar fazer uma disparate ...

Anónimo disse...

Bom dia. Li com atenção a maior perte dos comentários e, continuo confusa: Já explico a razão: Ensino a ler pelo processo Jean-qui-rit com elevado sucesso. Todos os meus alunos têm aprendido a ler( compreendendo o que lêem), excepto um, este ano lectivo, para o qual busco alternativa. Com este aluno utilizeitambém o método das 28 palavras, sem sucesso. O que me admira bastante, também, é o autor deste blogue afirmar que só há livros para os métodos visuais! Será que está a falar de Portugal?... è que eu tive imensa dificuldade para encontrar um único!

José Carrancudo disse...

1. Livros: em Portugal são todos feitos para o método visual/global.

2. "Elevado sucesso" é ilusório: os seus alunos não conseguem ler as palavras desconhecidas, que não tinham visto antes. Resultado previsível ao longo prazo: vocabulário muitíssimo limitado e não extensível; dai a incapacidade de perceber textos sobre assuntos minimamente complexos.

Faça o teste que eu tinha proposto - ler um texto desconhecido numa língua estrangeira desconhecida, de preferência, com poucos acentos (Inglês?).

Anónimo disse...

O método Jean qui rit não é um método global mas sim fonómimico. Os métodos fonómimicos são fonéticos.

José Carrancudo disse...

Obrigado pelo esclarecimento. Agora fui a procura e descobri uma dúzia de métodos fonéticos usados pelos franceses, aqui ...

Mário de Noronha disse...

Recebi a sua mensagem.
O meu novo post está em
http://psicologiaparaque.wordpress.com/2010/09/28/estrutura-e-desenvolvimento-cerebral/

Mário de Noronha

Anónimo disse...

Boa noite Sr. Professor José Carrancudo
sou mãe de uma menina de 8 anos que fez o 1ºano num colégio e deu o método global: além de não ler nem escrever nada, ficou com começou a rejeitar a escola; Agora no 3º ano e noutra escola está muito bem, no entanto procuro uma professora de ensino especial - porque ela dá muitos erros, repete constantemente os mesmos erros,

Por favor, conhece algum professor do ensino especial ? deixo o meu contacto c.amorim@mail.telepac.pt

Grata

Unknown disse...

É muito engraçado ..no Brasil uma criança de seis anos ja lê . E dizem q educação do Brasil vai mal ...isso pq quando vão analisar a população escolar do Brasil vao para as areas pobres ... aq tbm a regiões de pobreza e de escolas precárias ... o metodo de ensino em portugal e absurdo de précário .. os professores premeiam quem copia quem decora .. se uma aluno interpleta um texto do livro a seu modo eles dão negativa na resposta .. querem uma resposta igualzinha q esta no livro ... absurdo criança aq com oito anos não ler ... no Brasil seis anos ja estão lendo ... sem contar que aqui é paga a educação tudo se paga ...no Brasil escola publica se tem livros e alimentaçao gratuita ... só estou aqui pq meu marido trabalha em uma empresa na Espanha e esta sempre a viajar toda a Europa ..pq sinceramente estou decepcionada com a educação de Portugal ... foi uma péssima escolha trazer a minha filha ... o diferencial aq é o inglês ... mas isso no Brasil se paga um bom curso ...pq o restante completamente atrasado e com uma metodologia péssima !

Anónimo disse...

Boa Tarde,
E o que pensa do método das 28 palavras - será o utilizado com o meu filho este ano...
Muito obrigada

José Carrancudo disse...

#Anónimo: Utilizado para aprender o alfabeto seria excelente. Implementado na integridade, acho uma perda de tempo. Eu próprio tinha "aprendido a ler" em casa, por um processo semelhante a este, antes da escola. Tinha um livro com muitos desenhos e pouco texto, que mais ou menos decorei depois de a minha avó ter me lido imensas vezes. E tinha eu impressão que sabia ler quando entrei na escola, embora provavelmente só sabia metade do alfabeto...