Disciplina, Stress e Aprendizagem

O modelo actual da Escola transformou a sala de aula num local livre de stress, considerando que os alunos aprendem muito melhor num ambiente informal e pouco disciplinado, onde podem exibir os seus comportamentos mais naturais. Este modelo contraria às noções fundamentais de biopsicologia.
Ora, o comportamento mais natural de qualquer ser vivo, é de não fazer nada, quando não é mesmo obrigado a fazer alguma coisa, conservando assim a energia. E é isso que na realidade os nossos alunos fazem, para além de brincadeiras pouco oportunas, para ocupar os seus "tempos livres" nos quais se transformaram as aulas escolares.

Tese: A falta de disciplina nas aulas impede o ensino e a aprendizagem.

Demonstração:
Na ausência da disciplina, os alunos:

  • Não aprendem a concentrar a sua atenção numa tarefa concreta a desempenhar;
  • Não aprendem os comportamentos civilizados, como, por exemplo, permitir falar o professor ou os colegas;
  • Como consequência, gastam todo o tempo da aula em ocupações inúteis e inoportunas, sem adquirir quaisquer conhecimentos ou competências;
  • Como não estão a aprender nada, perdem o interesse nos estudos;
  • Habituam-se aos poucos a considerar a escola como um local de divertimento e convívio;
  • Associam as horas de aulas ao descanso, convívio e passatempo, onde podem fazer tudo, sem sofrer represálias.
Os professores:
  • Não conseguem ensinar as matérias, porque estão normalmente ocupados com outras coisas, nomeadamente, a combater os comportamentos inoportunos dos alunos;
  • Ficam desmotivados e profissionalmente frustrados, o que inevitavelmente reduz a qualidade do seu trabalho.
Tese: A falta de stress dificulta a aprendizagem.

Demonstração:
  • O stress é uma reacção natural do ser vivo às condições adversas que provocam mal-estar, desconforto ou ansiedade;
  • O stress provoca a activação dos mecanismos naturais que permitem ao ser vivo de aprender mais, mais facilmente e mais rapidamente, evitando deste modo futuras situações semelhantes, que possam provocar desconforto ou ansiedade;
  • O stress moderado ajuda a aprender, sem provocar danos ao organismo;
  • Na ausência do stress, o ser vivo não tem incentivos de modificar os seus comportamentos. No caso concreto dos alunos, estes não aprendem enquanto não forem forçados a isso, interna ou externamente.
Podemos dar um outro nome ao stress, designando-o, no caso da Escola, pela motivação. Para podermos decidir sobre a validade do modelo actual da Escola, precisamos então perceber, se a brincadeira pode constituir uma motivação adequada para aprendizagem.

Tese: O stress não deve ser eliminado, antes, deve ser criado de modo controlado.

Demonstração:
  • Para aprender, os alunos precisam de algum stress, ou seja, da motivação;
  • As origens da motivação podem ser muito diferentes, por exemplo: "o meu pai vai bater-me", "os meus irmãos vão rir-se de mim", ou "não vou receber prendas no Natal";
  • Ora, a motivação mais válida é: "preciso de saber isso, para saber mais";
  • Para adquirir esta motivação, o aluno precisa de obter algum sucesso escolar, senão vai rapidamente perder todos os incentivos;
  • Na ausência de um ambiente normal de trabalho na sala de aula, o que agrava as consequências dos disparates pedagógicos (ver aqui e aqui), reinantes no nosso ensino, qualquer sucesso fica muito comprometido, para a grande maioria dos alunos;
  • Os animais, desprovidos de fala e de pensamento abstracto, aprendem a comunicar e a interagir uns com os outros, por via da brincadeira;
  • O mesmo acontece com os alunos durante os intervalos entre as aulas;
  • Reduzindo toda a motivação a brincadeira (este tipo da motivação existe em muitos animais), estamos a reduzir o processo de aprendizagem à sua parte mais primitiva e instintiva, deixando de desenvolver a linguagem, as capacidades de memorização sistematizada e o pensamento abstracto, que necessitam de motivações mais complexas, pois envolvem um trabalho intelectual mais árduo e mais avançado, do que o envolvido no desenvolvimento da capacidade de conviver e de comunicar.
Assim, a brincadeira não consegue motivar a aprendizagem humana ao nível da escola, sendo inválido o modelo da Escola actualmente implementado. Por outro lado, a criação das motivações válidas fica condicionada pelos disparates pedagógicos que debilitam o nosso ensino, deixando uma grande maioria dos nossos alunos, completamente desmotivada.

Medidas propostas: são aqui; além disso, precisamos de reintroduzir a disciplina na Escola, que deverá vigorar logo desde o 1º ano.


2 comentários:

Mário de Noronha disse...

Concordo plenamente com o que diz.
Ainda bem que a minha neta não esteve num ambiente com falta de stress e de motivação para trabalhar e aprender.

Mário de Noronha disse...

Posso dizer que aprender, aprendem sempre, mas coisas erradas ou inadequadas.
Daí, a má educação e a «bandalheira» que se nota em muitas pessoas.
Com o sistema se «descontracção», há anos, tive imensa dificuldade em dar aulas aos formandos «arrebanhados» com os fundos da CEE.
No ensino superior, em comparação com os «novinos» acho preferível dar aulas aos «velhinhos».