Melhorias no sucesso escolar no ensino secundário no ano lectivo 2006-2007: fraude educativa generalizada

O Governo congratulou-se com uma redução drástica de 10% no insucesso escolar na escola secundária no ano lectivo transacto, atribuindo este resultado às medidas que aplicou durante os últimos dois anos.

Consideremos os factores que afectam a situação:
  1. O aluno médio não tem capacidade de estudar com aproveitamento a matéria da escola secundária - as razões foram expostas aqui e aqui.
  2. O professor deve avaliar os seus alunos, dando-lhes uma nota.
  3. O professor vê-se obrigado de passar uma percentagem razoável dos seus alunos, já que está a ser avaliado com base no seu sucesso escolar.
  4. Avaliando os conhecimentos do aluno, terá que lhe dar uma nota negativa.
Então como sai o professor desta embrulhada? Avaliando outra coisa qualquer, que os alunos sabem fazer! Por exemplo, os professores adoram mandar fazer os Trabalhos ou as Apresentações em vez dos Testes. E como é que se avalia um Trabalho? Avalia-se a qualidade de impressão no computador, a qualidade da cor dos desenhos incluídos, a quantidade de erros de ortografia feitos pelos autores brasileiros, dos cujos textos o aluno foi fazendo o "copiar-colar", e talvez algures no fim, com peso diminuto, o conhecimento da matéria que o aluno conseguiu transmitir. Com estes critérios, toda a turma recebe notas positivas, continuando sem saber do assunto, mas toda a gente fica contentíssima: o Aluno, os seus Pais, o Professor, o Pedagógico, a Ministra, o Governo, e o Partido do Governo.

Com certeza, podemos passar todos os alunos, mesmo os que não aparecem nas aulas. Saberão alguma coisa daquilo que supostamente andaram a estudar?

Um exemplo da vida: um professor de Matemática, para melhorar as notas da turma, mandou fazer um Trabalho, no fim do ano lectivo, no qual os alunos deviam apresentar as fotografias, tiradas nas ruas da cidade, dos objectos que "têm a ver com a Matemática". Podem ter certeza que todos os alunos com uma nota sistematicamente negativa receberam uma boa positiva por este trabalho, ficaram com uma positiva anual, e nenhum repetiu o ano por causa da Matemática! Um belo exemplo para toda a comunidade pedagógica que ainda se continua a esforçar para transmitir algum conhecimento aos alunos.

Mais sobre a fraude educativa: O estado do ensino em Portugal (III)

5 comentários:

Lin disse...

Sim, de facto, isso dos professores mandarem fazer trabalhos e apresentações em vez de estudar para testes é um recurso a que se recorre com frequência.

Anónimo disse...

Caro José, acho que conseguiste dizer aquilo que eu penso há muito.
Estou, neste momento a frequentar o 11º ano e vivo, a cada dia, este mistério da educação.
Estamos a assistir a um ensino que, em vez de ser de excelência e primar pela qualidade, está a benificiar aqueles que não se esforçam, com o intuito de elevar as classificações e subir Portugal no ranking europeu.

M.J. Cruz disse...

Outro exemplo a nível pessoal.
O ano passado no meu 11º ano que frequentei na Escola Secundária de Seia, tive notas a Filosofia que facilmente me justificavam o 17, junto com trabalhos de 19 valores aliados ao bom comportamento.
Final do 3º periodo, peço um 17 com aquela esperança que se tem sempre de o professor subir um valor e ficarmos com um 18. Ao que o professor (excelente professor, amigo e brincalhão, atenção) me responde com um "não sei se vai dar.."
Mas na situação inversa tinha 3 colegas meus com nota negativa de 7 que precisavam de acabar com 11 para concluir acabar com média de 10 dos dois anos e, consequentemente, concluir a disciplina.
Resultado?
Eu fiquei com o meu 17, ganho legitimamente e com muito esforço, nota justa, mas a pedir e merecer um 18.
Os meus 3 colegas foram todos aumentados em 4 - QUATRO - valores para que pudessem transitar de ano.

O que é isto?
Vivemos um sistema de ensino que recompensa o medíocre e limita o excepcional.
Completamente idiota.

E isto para dar um só exemplo.

José Carrancudo disse...

O mais triste, é que os seus colegas vão entrar num curso superior, e vão acaba-lo, pelo mesmo método. São o futuro deste País.

Anónimo disse...

O actual ensino é uma grande fachada. Aumentar as habilitações as pessoas apenas para satisfazer as estatísticas. Pior cego é aquele que não quer ver.