Métodos de avaliação e o (in)sucesso escolar no Ensino Supeior Nacional

Igor Khmelinskii, FCT, DQF, Universidade do Algarve


A Universidade recebe alunos ignorados pela Escola

O maior defeito do ensino escolar é a recusa consciente e oficial da Escola do uso da memorização como instrumento de aprendizagem, e a recusa de se empenhar no desenvolvimento das capacidades de memorização do aluno. Um dos resultados deste paradigma é o insucesso escolar massificado dos alunos cujas capacidades de memorização a longo prazo (MPA – memorização permanente associativa, aquela que necessitamos para acumular os conhecimentos) são inicialmente baixas. Estes alunos precisam de melhorias radicais neste aspecto, desde o 1º ano da escola primária, mas não recebem nisso qualquer ajuda da Escola. A existência do problema foi disfarçada pelo ME há uns anos, baixando a fasquia de aprovação nos exames nacionais de matemática e português, de modo a aprovar os alunos quase todos. Assim, hoje em dia os alunos cujos conhecimentos valem 5 valores recebem uma nota de 10 nos exames nacionais, e entram na Universidade.

Avaliação continua – por testes, trabalhos de grupo, relatórios

Os trabalhos de grupo e os relatórios não avaliam conhecimentos, avaliam sim trabalho (tempo despendido) e o empenho. A avaliação por testes de frequência, a forma preferida tanto dos alunos como dos professores, em alunos fracos apenas avalia a capacidade de memorização de curto prazo (MCP; pois não chegaram a desenvolver a MPA, e por isso é que são fracos) – durante uma semana, o aluno consegue ler (e até decorar!) um ou dois capítulos, e depois durante o teste (com ajuda da exposição da própria pergunta, ou das várias versões de resposta, nas perguntas de resposta múltipla) conseguem lembrar o suficiente para passar no teste, esquecendo tudo completamente durante a semana seguinte (embora se questionados se chegaram a estudar uma certa matéria, são capazes de dizer que sim, recordando os títulos). É óbvio que feita uma média dos testes com os relatórios e trabalhos de grupo, consegue-se deduzir uma nota final até francamente positiva – mas que não corresponde aos conhecimentos do aluno.

Avaliação por exame

A avaliação por exame avalia tanto os conhecimentos armazenados por via da MPA, como – nos dias da preparação para o exame – por via da MCP. É óbvio que os alunos fracos não conseguem passar no exame, pois com o hábito de estudar para o teste, tentam fazer o mesmo que fazem para o teste – ou seja, conseguir passar, estudando apenas durante uma semana. Ora existe o semestre inteiro para os estudos, e o que se consegue fazer num semestre inteiro, humanamente não é possível fazer numa semana. Além disso, a capacidade de armazenamento de mecanismo MCP é bastante limitada, não cabendo ai a matéria de uma disciplina inteira, ao contrário do mecanismo MPA, que tem capacidade praticamente ilimitada.


Conclusões e recomendações

A avaliação por testes de frequência, trabalhos de grupo e relatórios, principalmente dos alunos fracos e sem capacidade de concentração, engana tanto os docentes, como os alunos, pois aprovam-se alunos fracos e sem conhecimentos, mas ficam todos a pensar que fizeram um bom trabalho, enquanto a realidade é muito diferente.

Assim, recomenda-se avaliar os alunos por exame. Além de mais, a ausência de frequências durante o semestre facilita o esforço continuado e empenhado, não obrigando os alunos de deixarem a estudar para “se prepararem para uma frequência”. Devemos estimular o desenvolvimento da MPA em alunos, incentivando-os de fazer apontamentos, estudar regularmente os livros, fazer trabalhos de casa e trazer as dúvidas para as aulas, etc. Quem pretende avaliar por testes de frequência, deve fazer testes surpresa, ou mini testes todos os dias, para impossibilitar uma preparação especial que inviabiliza a continuidade do trabalho sistemático do aluno durante o semestre.

Referência

1. I. Khmelinskii, Educação em Portugal

2 comentários:

Colégio Lisboa disse...

Gostei do que li. Mas acho que se dá muita importância aos testes e não nos preocupamos com aquilo que o aluno aprende diariamente. Por isso usar um mini teste diariamente que pode até nem contar para nota mas que pode ajudar o professor a perceber como está a ensinar, e qual o conhecimento que o aluno está a adquirir.

Igor Khmelinskii disse...

Os mini-testes diários irão mostrar o que foi dado nos últimos dias, naquela parte que os alunos ainda não esqueceram -- e disso o professor já sabe. No meu ver, são uma perda de tempo inútil.

Temos de fazer com que o aluno trabalha sistematicamente e muito, entrando repetidamente e de formas variadas em contacto com cada uma das "unidades de conhecimento". Só assim é que se consegue assimilar os conhecimentos de forma reutilizável e permanente, pois sem isso é impossível criar as associações.

A segunda pré-condição necessária para criação das associações - é de já ter conhecimentos, previamente memorizados. Daqui a necessidade de memorização consciente, completamente ignorada pela Escola.

O que resta aos alunos, é a memorização sem capacidade de perceber, e nesse sentido inconsciente, e volátil, pois a memória de longo prazo nunca está a ser activada. Isso resulta na ausência completa de conhecimentos memorizados, em 99,9% dos alunos.